MAGNÍFICA E TERRÍVEL ADOLESCÊNCIA
Adriana Tanese Nogueira
Nascer de
novo, desta vez já grandes e, na verdade, grandes demais, com corpos que
extrapolam a coordenação que por anos conseguiu-se conquistar. Pernas longas
demais, braços remando pelo espaço, cabeças cheias de idéias, conhecimentos
precoces, dúvidas, excitação, insegurança, perguntas sem respostas e respostas
sem perguntas. Gigantescos pontos de interrogação pairam no ar. E o coração
transbordando incompreensível quantidade de revolta, amor, ódio, medo, timidez,
raiva, ansia e impulso. Vontade de viver, fazer, ser, chegar lá. Um
"lá" que não se sabe bem onde fica...
A
adolescência é um dos tempos mais delicados e complicados da vida humana. Por
baixo da superfície despreocupada daquela criança crescida há galaxias sendo
formadas e destruídas, vulcões arrotando paixões e altos pensamentos
filosóficos sobrevoando o mundo desconhecido. Perguntas existenciais jamais
verbalizadas e desejos infantis dos quais se tem vergonha ou orgulho.
Nesses
anos alquímicos que substituem o tempo docemente irresponsável da infância
muitas coisas ocorrem e estas vão se arrastando ou evoluindo, até chegar aos
pés daquela montanha que representa o início da idade adulta. A adolescência é
a preparação para a escalada. É nesse momento que os pais, que já tiveram muita
paciência, precisam ter mais. Mais flexibilidade, mais inteligência, mais
disposição e mais auto-crítica. Há de se fazer acrobacias mentais e
sentimentais com filhos adolescentes para compreendê-los e acompanhá-los, para
não empacar confusos diante daquela nova pessoa, lastimando a perda da linda
criancinha (que não dava todos esses problemas. Onde ela foi parar?).
Adolescentes
são pérolas humanas que podem se perder cedo demais, como aqueles os brotos que
despontam no campo a qualquer aparição do sol, sem esperar pelo tempo certo da
primavera, e se queimam e morrem. Os estímulos de um mundo conturbado e
complexo invadem suas vidas e os adolescentes já vêm embebidos de valores
globalizados que absorveram por anos na infância. Enquanto isso, seus pais
estão muitas vezes ocupados e cansados demais para entender "o que é que
está acontecendo". É na adolescência que o derralhamento do trem tem
consequências de longo termo porque ao chegar aos pés daquela montanha que é o
início da vida e responsabilidades adultas é preciso começar a subida com o pé
certo para que lá na frente dê certo.
Tenho
observado que quando há derralhamento entre os 15 e os, mais ou menos, 20 anos
a confusão já reinava por muitos anos a fio, naquele começo da vida que haveria
de servir para construir aquela personalidade e aquele espaço no mundo para o
ser social e realizado que almejamos ser. E entra aqui outra função parental:
além da paciência e flexibilidade há de se usar o punho de ferro, com amor, inteligência
e pontualidade. Toda dureza há de ser pontual sem se arrastar no tempo e no
sentimento. Ela é precisa e clara, nunca um "clima" de cobrança,
ressentimento e insanidade. Dependendo da história e personalidade de cada um,
pai ou mãe hão de segurar as rédeas com maior ou menor firmeza em um momento ou
no outro (ou em vários!).
É
importante não perder porém o sentido desse momento existencial, ele é também
frágil. Adolescência é energia sutil e grosseira ao mesmo tempo, por isso deixa
muitos pais desesperados. Entretanto, é preciso constantemente lembrar de que
está ocorrendo uma metamorfose interior no adolescente e mesmo que ele pareça
estar se divertindo e curtindo a vida, pais devem saber enxergar mais
profundamente esse tempo complicado. Dele há de nascer um Homem e uma Mulher e
é esta identidade que está sendo sofrida e deliciosamente gestada. Sejamos parteiras
e parteiros.
Os adolescentes são mais terríveis do que magníficos. Que fase!!! Com certeza é a fase mais importante de uma pessoa, um grande desafio para nós mães e pais. Que sejamos todos iluminados com nossos adolescentes.
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