AMOR ALÉM DO AMOR
Há muitas formas de amor, estágios
e aspectos. Na imensa casa chamada Amor há muitos quartos, diferentes em tamanho
e aprendizado. É como se fosse um palácio-escola, estruturado para oferecer uma
condição ideal para cada tipo de necessidade.
Há pelo pelos dois tipos de necessidades:
aquelas conhecidas, que nos fazem escolher determinada pessoa para casar e ter
filhos. E aquelas das quais não temos conhecimento e que, entretanto, convivem silenciosamente
com as primeiras e, mesmo na sombra, são determinantes. Dessas necessidades, algumas servem ao propósito de nos fazer sentir mais confortáveis, outras de nos
fazer crescer. Em alguns momentos, as duas podem se identificar: conforto e crescimento andam, então, juntos por um trecho ou dois.
E assim fazemos uma escolha, que
abraçamos e realizamos. E nossa jornada de crescimento continua.
Às vezes, nessa grande casa do
amor, encontramos nossa sala definitiva e lá ficamos pelo resto da vida, pois
ela tem todos os nutrientes para uma longa caminhada de desenvolvimento. Outras
vezes, acabamos estacionados num dos cômodos: ele é confortável e conhecido... tão
seguro como uma prisão. A jornada existencial é um caminho de expansão da consciência,
quando esta trava acabou o crescimento.
Crescer ou não crescer não é uma
escolha. É uma necessidade do ser. Crescemos fisicamente à despeito de querermos
permanecer crianças porque parece mais fácil do que assumirmos as
responsabilidades que vêm com a idade. E, quando fisicamente adultos, precisamos
crescer emocional e intelectualmente para dar conta dos desafios que a vida traz. Desafios que podem vir das experiências externas, como trabalho e
relacionamento, e daquelas interna.
Ninguém escolhe sentir-se feliz
ou infeliz. Ninguém, numa situação confortável escolhe sair dela e enfrentar a
tempestade... Só fazemos isso porque algo profundo em nós nos intima. É isso ou
sofrimento sem fim. Por recebermos um pontapé no traseiro é que muitas vezes
saímos do cômodo confortável para nos venturarmos no restante da casa. Isso
acontece quando o que antes era amor agora é comodismo e medo.
Sabemos que o conforto é traiçoeiro
quando, apesar de gostar do que temos, ouvimos aqui e acolá dentro de nós um
choro sufocado que se manifesta em crises e devaneios, em ideias e comportamentos
perturbadores que “não se sabem de onde vêm, nem por que existem”. A verdade é
que não queremos saber. O choro é ignorado, a ondinha esquecida até... se
tornar um tsunami.
A evolução da vida não pode ser
parada. A vida que se apresenta em emoções, que se atrapalha no impulso, que se
trai nas dobras dos mal-entendidos, essa vida em nós que empurra para frente
tem sua profunda e sagrada inteligência. Essa vida não pode ser enganada e ela
não se dobra aos nossos medos e comodismo. Ela quer mais. É por isso que um
dia, o choro sufocado vira grito de revolta. Jung escreveu, “Aquilo do qual você
foge se tornará um dia destino”. Ou seja: aquilo que você não quer enxergar em
você se apresentará um dia fora de você na forma de um evento que não poderá
ser ignorado.
E esse dia chega. E não é culpa
de ninguém. O amor precisa de novas formas de amar, de novos espaços para
crescer. Amor verdadeiro está em movimento ascensional e expansivo. Amor
verdadeiro reconhece que é preciso soltar o passado para continuar vivendo. Amor
verdadeiro não cede à dó e ao medo.
“Ouça um bom conselho – canta
Chico Buarque – eu lhe dou de graça: inútil dormir, que a dor não passa... Venha,
meu amigo, deixe esse regaço, brinque com meu fogo, venha se queimar. ... Eu
semeio o vento... Vou pra rua e bebo a tempestade”.
Adriana
Tanese Nogueira
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